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segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

PhD gone wrong: e agora?

Nos últimos meses, estive ausente do blog, vários comentários e e-mails não respondidos. Peço desculpas, mas as coisas foram complicadas, e explico aqui o que ocorreu.

Em uma sentença? Não estou fazendo mais doutorado.

"Como assim?" Sim, bem assim. Logo eu, que aqui estive a dar dicas, sugestões e tentar ajudar o pessoal a ganhar sua bolsa de doc. A história é comprida, mas tentarei aqui descrever o que aconteceu, na esperança de continuar a ajudar o pessoal a ter sucesso na aventura.

Como sabem, iniciei meu doutorado no UK por volta de novembro de 2012. Os posts anteriores relatam os passos até chegar a bolsa, conversas com orientador, etc.

Entre novembro de 2012 e maio de 2013, tudo andava bem, já tinha submetido um resumo para uma conferência nos EUA, o andar da carruagem era suave.

Um bela sexta-feira, 16 de Maio de 2013 (dia que demorarei a esquecer), ao acordar e abrir meus e-mails, vejo um e-mail do meu orientador com o título "Your project". Alguns trechos abaixo (detalhes cortados por mim em itálico):
"I have been thinking about your project and how can we do something new and make it a good PhD project. Only doing X Y Z will have too much repetition of my previous students work from Fulano, Beltrano and Zezinho. It will be difficult during your viva defence to make another PhD work. We have a new project starting with Prof Blahblah. This will focus on algo relacionado com seu primeiro projeto, mas diferente."

Aí entra meu primeiro erro: fui na onda do orientador.

Ao iniciar o doutorado, troquei de área e possuía pouca experiência/conehcimento na nova área. As ferramentas que iria utilizar para o doutorado eram, no entanto, as mesmas que trabalhei no mestrado e durante alguns anos e, portanto, senti-me capacitado para tal. Pelo menos para o projeto original.

Quando ele me pediu para trocar, minha resposta foi: "Ok, vamos tentar." Sentiu o cheiro de coisa podre? Acabei aceitando porque meu ex-orientador tem a reputação de especialista na área. Ou seja, acreditei que ele sabia o que estava fazendo ao me realocar.

O novo projeto acabou mostrando-se completamente diferente do que eu esperava, requerendo habilidades que eu não possuo e fora dos meus interesses profissionais.

Trabalhei no projeto durante um mês e meio (ele me pediu para escrever um Review Paper - logo eu, que não tinha ideia do que estava acontecendo) e reclamei para ele. Resposta?
"PhD is not an easy task and requires lots of efforts and commitment. You need to learn many new stuff."
Segundo erro: Não buscar ajuda quando o orientador não está ajudando.

Nesse momento, minha reação foi trabalhar mais arduamente, para tentar conseguir resultados. Existe um mito do "herói solitário". Aquele cara que, sem ajuda dos outros, consegue contornar situações complicadas, se recuperar e sair na vantagem. Tipo o Rambo. Bullshit.

Quando as coisas não vão bem com o orientador, ao invés de se fechar na caverna, é interessante olhar para os lados. As universidades (boa parte delas) possui setores específicos para lidar com esses problemas.

Depois disso, as coisas foram piorando: mais um mês (já estamos em Agosto 2013), pedi para trocar de projeto e, depois de certa discussão via e-mail, meu ex-orientador aceitou o novo projeto, proposto por mim e que tinha mais a ver com o que realmente quero - não retornei para o primeiro projeto, pois ele já o tinha descartado.

Aí, veio o Review em Outubro (a cada 9 meses, um tipo de Qualify), com a banca composta pelo meu ex-orientador e mais dois professores.

Ao apresentar o que tinha feito até então - que se resumia ao plano do projeto - fui criticado duramente pelo meu orientador. Ao justificar que o que apresentei foi produto de menos de 2 meses, ouvi as seguintes palavras:
"It doesn't matter."
Um novo Review ficara marcado para Dezembro.

Três dias depois desse primeiro review, tive uma reunião com ele. Tinha engolido meu orgulho e amor-próprio, decidido a fazer qualquer coisa para salvar o doutorado. Iria voltar para o segundo projeto. Ele me disse que continuasse com o terceiro projeto, mas mostrasse empenho. Pensei "há esperança!".

Três semanas depois, mandei um mail com algumas coisas que escrevi, e alguns resultados parciais. Nada emocionante, mas já apontavam o caminho. A resposta:
"At least we have something to discuss for the review."
Mais três dias se passaram e recebo o seguinte e-mail do meu orientador (alterações minhas em itálico):
"I am thinking about how you can get sufficient results for your PhD. Your current ... work will not be challenging enough. We have an Indian partner who is developing something freaking different of what you are doing. ... It will be good for you to go there to learn this technique. They also have good experimental facilities for gasification etc. We can cover the costs of this visit for 12 months..."
Uma terceira troca de projeto, e ficar na Índia por 12 meses?

Aí, amigos, puxei a cordinha e pedi pra sair.

E agora, Batman?
Há vida depois de dar um FAIL no doutorado?

Em breve.

Meanwhile...
http://www.phdcomics.com/comics/archive.php?comicid=360

14 comentários:

  1. É foda, para dizer o mínimo... sei um pouco do que você está passando... no mestrado eu também sofri bastante por "ter ido na onda" do orientador. Depois do primeiro ano eu não estava gostando do andamento do meu projeto e ele não aceitou as minhas críticas, mesmo depois que todas as minhas críticas se mostraram verdadeiras...
    rsrs... aquela sua estória de "herói solitário" também me descreveu perfeitamente.
    Nem sei que conselho te dar.... nessas horas a gente tem que se esforçar para pensar que foi bom que isso aconteceu agora e não lá pelo 3° ou 4° ano!!! E você pôde curtir esse tempo no exterior, melhorar o inglês, e tudo mais
    Vamos ver o que acontece comigo na Inglaterra! Se bem que essa estória do certificado ATAS me pegou de surpresa agora (ele só sai em 4 semanas e era prá eu começar o doutorado em 1° de março!!) então nem sei mais se vai dar tempo.
    Força!

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    1. Que estória de certificado ATAS? Você pode dar detalhes? abraço

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    2. Para alguns cursos de pós-graduação (acho que para a graduação isso não é necessário) é pedido esse certificado ATAS, que é como um atestado de que você não vai usar os seus conhecimentos para a produção de armas de destruição em massa!!! Mas acho que só pedem isso para os cursos de ciências exatas e biológicas, que lidam com esses conhecimentos mais perigosos. E esse ATAS é exclusivo do Reino Unido. Quando a universidade te enviar a carta de aceitação eles devem mencionar se vc vai precisar do ATAS. E só depois que vc conseguir o ATAS é que a universidade vai te enviar o número CAS (que é necessário para pedir o visto de estudante para o Reino Unido). Porém, vc só consegue requisitar o ATAS depois de receber a carta de aceitação (porque vc vai precisar do numero dessa carta), e daí o atestado demora algumas semanas para ficar pronto. Eles dizem que o convencional é demorar quatro semanas ou até mais, mas felizmente o meu só demorou 2 semanas =)

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  2. não sei o quão desagradável era a experiência que vc estava tendo... mas eu me agarria em projeto na india, projeto 3, 4 ou 5. Claro que simultaneamente estaria engatilhando outro phd... acho perda de recursos ficar twisting in the wind.
    mas boa sorte!

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  3. Olá Bayard!
    Acompanhei o blog e sempre achei bem legal da sua parte compartilhar tudo isso.
    Estou passando pelo mesmo processo agora e queria te perguntar quanto tempo levou para sair o resultado sobre a bolsa. O meu edital finalizou em setembro 2013 e até agora nada.
    Mando email todos os dias perguntado ( está mais de um mês atrasada esta resposta), mas só recebo "aguarde contato por email". Já estou até com medo de me excluírem depois de tantas perguntas.
    Estou ficando sem tempo para agilizar visto, lugar para ficar estas coisa.

    Abraços.

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  4. Força, Bayard! Seu blog foi muito importante pra mim. Dê a volta pro cima! Abraços!

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  5. Puxa, que situação Bayard!! Mas força que se não foi, não era pra ser!
    Você teve que devolver as bolsas que já havia ganho?

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  6. Olá Bayard tudo bem? Gostaria de saber como foi o inicio do seu processo. Quando deu inicio ao processo do doutorado você ainda estava cursando o mestrado? Obrigada!!!!
    Que pena que não certo para você, mas acho que no seu lugar teria feito o mesmo

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    1. Ola Janaina!
      Quando iniciei o processo, estava trabalhando. O Meu mestrado terminei em 2008 (looooong time ago) ;)

      Da uma olhada nos post mais antigos e tens uma boa ideia do processor to do.

      Boa sorte!

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  7. Olá Bayard espero que você esteja bem melhor,

    estou com algumas dúvidas e se você me ajudar eu te agradeço.

    Quando da mudança de projeto e orientador você chegou a enviar alguma solicitação para a CAPES ou CNPQ?
    Caso sim, quanto tempo demorou a resposta?
    Poderia postar algum modelo?

    Abracos

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  8. Bayard, sinto muito por não ter dado certo seu PhD. É frustrante :/ Acho que no seu lugar teria feito o mesmo.
    Mas e agora como ficou sua situação com as bolsas que você ja havia recebido? Teve que devolver?
    abraços
    :*

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    1. Oi Bruna.
      Enfim, ha "malas que vem de trem".
      Minha situacao:
      Em dezembro pedi o desligamento, justificando e documentando, atraves dos emails que troquei com o orientador, is motivos e o que ocorreu.
      Quando acesso o portal Carlos Chagas, nao aparece nenhum processo no meu nome. Tampouco tive qualquer comunicacao do CNPq sobre devolucao. O que vai ocorrer? Nao sei. Mas informarei aqui :)

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  9. Passo pela mesma situacao. Assedio moral, mao-de-obra barata para o orientador que so me da tarefa vinculada ao projeto dele e esquece que eu tenho o meu. O principe virou abobora. Tive ja crise de ansiedade antes de vir à Uni. Escrevi aoa tendimento CNPq e nao obtive resposta. Qual contato vc usou? É possivel pedir troca de instituicao e orientador pelo CsF? O que vc acha de pedir suspensao temporaria da bolsa? Cancelar/desligar é minha ultima hipotese. Mas...
    Pena que nao ha email de contato do blog, tenho duvidas mt especificas, mas nao quero me expor "abertamente".
    Abraco

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  10. Sem stress, manda um mail no bayard.bmorales(at)gmail.com.

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